Frei Claudiano, filho de Porto da Folha, está em Roma no segundo ano de doutorado em Teologia. Durante as férias do verão europeu (de julho a setembro) aproveita para realizar algumas pastorais. Neste ano de 2023 deu conferências na França e em Portugal e, para completar, entre os dias 10 e 24 de setembro, pregou retiro na Islândia, que é uma ilha europeia peculiar, porque vulcânica e com paisagens surpreendentes. Localiza-se a 286 km da Groenlândia, 795 da Escócia e 950 da Noruega, em direção ao Polo Norte. Está localizada nas placas tectônicas Eurásia e Norte-Americana, em uma zona de vulcões ativos. Há tempos do ano que o dia dura mais de 23 horas. Tem até o sol da meia noite. Entre junho e julho o sol chega a se esconder por uns 20 minutos somente. Mas durante o inverno o sol some. E tudo congela. Há muita neve e gelo. Um trator abre as ruas para que passem os carros. As casas são aquecidas com as águas dos vulcões e com a mesma água se toma banho. A energia também é gerada pelos vulcões. Um país que não se tem cobras, formigas e baratas, também muitos outros insetos.
Nos conversamos com ele, veja a entrevista.
O que significa pregar retiro num país tão distante e tão diferente?
Significa que o Evangelho deve ser anunciado em todos os rincões da terra. Fui à Islândia, não como turista, mas como trabalhador da vinha do Senhor. A Congregação das Carmelitas do Divino Coração de Jesus me contactou para dar-lhes o retiro anual. Aceitei prontamente. Para elas já preguei duas vezes na Itália e dei um curso no Brasil, desta vez foi na Islândia. Elas ficam em Akureyri, que é a segunda maior cidade do País com cerca de 20 mil habitantes.
Conte-nos como era o seu ritmo.
Não fiquei hospedado no convento das irmãs, mas na casa paroquial. Acordava cedo, tomava um banho com água vulcânica, vestia uma roupa térmica por baixo do hábito e seguia para o convento das irmãs para celebrar a Missa, que era em Português com leituras em Islandês. Atravessava as ruas olhando as grandes montanhas branqueadas pela neve, isso no final do verão.
Antes de começar o retiro, as irmãs me levaram a alguns pontos incríveis como a usina que gera energia com os vulcões, os rios de águas descongeladas do Polo Norte, os vulcões adormecidos e ativos e o lugar onde o último bispo católico foi morto pelos Luteranos. E o que não poderia faltar, é que um dia antes de dormir, olhei pela janela e vi um céu diferente. Uma cortina verde dançava no céu, era a aurora boreal. Na outra noite seguinte, o céu ficou ainda mais verde. E parecia dançar. Um espetáculo da natureza. E como sabemos, isso só acontece nos polos da Terra, porque os ventos solares são por eles atraídos e causa esse efeito visto em algumas noites.
Quando o retiro começou, os passeios acabaram. Dediquei-me totalmente ao retiro e atendimento das irmãs. Mas continuava a dormir na casa paroquial. Ainda falto dizer uma coisa muito diferente da nossa: quando se entra nas casas, retirar-se os sapatos e coloca-se sapatos próprios de andar em casa. Jamais caminha-se dentro de casa com os sapatos que se usa para andar nas ruas.
Como é a Igreja na Islândia?
Os católicos na Islândia são uma minoria. A Igreja oficial é a Luterana. Quando o rei da Dinamarca converteu-se ao luteranismo impôs à Islândia o fim do catolicismo, perseguindo os não convertidos e matando os bispos. Eu estive num templo onde o último bispo católico foi martirizado. Mas os altares das igrejas continuaram voltados para a parede e as imagens dos santos não foram quebradas. São muitas imagens dos santos nos templos luteranos. Mas hoje a Igreja Católica está presente. Todo o país é uma única diocese. Em algumas cidades não se tem templo católico, mas ali estão os católicos. Os protestantes oferecem os templos para o padre celebrar a Missa para os católicos, e em alguma cidade o padre chega a pagar para celebrar para os católicos no templo protestante.
Você só teve contato com as irmãs?
Meu contanto foi principalmente com as irmãs. Mas fui muito bem acolhido pelo pároco alemão. Concelebrei a Missa com ele na matriz paroquial de Akureyri. Ele rezou em Islandês e eu concelebrei em Latim. Depois da Missa, tínhamos um café. Ali conversava com muito gente, principalmente em italiano e francês.
E lá você se lembrava de Porto da Folha?
Porto da Folha é inesquecível. Aonde eu vou a levo comigo. Sempre! Inclusive, nas minhas pregações de retiro eu conto histórias dos meus familiares, o ofício de Nossa Senhora nas madrugadas, os benditos do meu povo… Sempre tem coisa da minha terra!
POR VALDEMIR PEREIRA LIMA.
PROFESSOR DE HISTÓRIA,
JORNALISTA – DRT. 0002577/SE
RADIALISTA – DRT. 0009643/ DF
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