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Cultura

Fragmentos Históricos da Vaquejada do Povoado Lagoa da Volta Tradição na terra de Santa Luzia

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A origem da vaquejada remonta ao sertão nordestino entre os séculos XVII e XVIII. Nesse período, as fazendas não tinham cercas e os animais eram marcados e ficavam soltos em meio à vegetação, que era abundante. Durante o mês de junho chegava ao fim a estação de chuvas e os vaqueiros das fazendas eram designados pelo coronel a apartar os bois, isto é, trazer de volta as cabeças que haviam saído do território da fazenda.

Os festejos do meio do ano passaram a ser chamados de ‘festas de apartação’ e além de recuperar o gado, os vaqueiros faziam a seleção daqueles que iriam ser vendidos, os que deviam ser ferrados e os que seriam castrados. Porém, nem tudo era simples no processo de apartação dos bois, pois alguns animais fugiam e precisavam ser detidos.

A perseguição e derrubada dos bois pela cauda passou a ser chamada de pegada de boi. Os vaqueiros que realizavam essa tarefa eram respeitados e reverenciados na caatinga. Os melhores vaqueiros recebiam prêmios que podiam ser o próprio animal ou valores em dinheiro.

Os bois que fugiam do rebanho e não atendiam ao chamado do vaqueiro recebiam denominações como marueiro e barbatões.

A vaquejada foi adquirindo o formato que tem hoje aos poucos, o status de festa foi sendo delineado conforme mais pessoas do público em geral se interessavam em assistir ao espetáculo dos vaqueiros apartando os animais, surgindo assim à vaquejada. Uma característica que mistura o trabalho com o gado e a festança entorno da mesma atividade.

De acordo com relatos de populares, em nossa região na década de 1990 existiam algumas famílias que se tornaram pioneiros na manutenção da cultura da vaquejada, onde podemos destacar a família do saudoso zé Imídio, da fazenda araras, realizou várias pegas de boi em sua fazenda, Pedro Imídio com a novilha lavareda, que corria no mato do saudoso zezé do Tabuleiro, Zeca Tibúrcio nas Quiribas, o saudoso Antônio Caipe treinava seus gado no mato do finado Eraldo ou no mato do finado Ananias, o saudoso Agripino da Ponta da Vaca em sua fazenda com o boi estrelinho, entre tantos outros que representavam a nossa Lagoa da Volta em festa fora da nossa região.

Mas, foi na fazenda Santa Maria, de Eliezer Santana, localizada próximo ao Povoado Lagoa da Volta (no início dos anos noventa), todos os anos no mês de julho o mesmo realizava uma pega de boi no mato, com um boi famoso chamado negão.

No dia 30 de abril de 2000, Eliezer Santana veio a falecer e com sua morte os vaqueiros Júlio Ferreira, Nilson de Vardo, Dedé de Braúna e Chiquinho Campinho falaram com Miguel, um dos filhos de Eliezer, para que ele liberasse a fazenda pra eles realizarem a festa já que eles nao iriam mais fazer. O senhor Miguel autorizou a realização, mas naquele ano não foi possível realizar, por conta da morte de seu pai que estava muito recente.

No ano de 2001, nos dias 13 e 14 de julho (quarta e quinta), os vaqueiros  Júlio Ferreira, Nilson de Vardo e Dedé de Braúna e um grupo de amigos realizaram a primeira festa do povoado. As corridas foram realizadas na fazenda Santa Maria, de Eliezer Santana. A festa no povoado contou com forró pé serra de Zé Lourenço, dentro do antigo mercado da carne. No ano de 2002, aconteceu a segunda edição da vaquejada com a pega de boi no mato na mesma fazenda do ano anterior. A festa da rua aconteceu no clube da associção.

Em 2003, os senhores Chiquinho Campinho, Fabinho de Maneca, junto com um grupo de amigos, assumem a frente da vaquejada até o ano de 2005. Neste periodo, a pega de boi no mato foi realizada na fazenda Santa Maria e as festas de rua foram realizadas na praça principal do povoado, firmando como data todo último final de semana do mês de julho.

Em 2006, a organização fica por conta de João campinho (vereador na época). Neste período, as corridas passaram a ser realizada no parque Wilson Couto do Mocambo, às margens do rio São Francisco, firmando assim uma parceria entre as duas comunidades. A festa na rua passou do forró pé serra e musical para shows de bandas famosas e artistas locais em palco grande.

João Campinho continua a união com os quilombolas. Desse período até hoje, a vaquejada é realizada no parque Wilson Couto do Mocambo. A festa de rua também ganhou mais atrações e shows com bandas de renome local e nacional.

Em maio de 2012, João Campinho faleceu, com a sua morte inesperada a organização da festa passa para Ailton de Zé Doutor, vereador na época que assume a frente da festa e passa a realizar até o ano de 2017, quando entrega o comando para o vereador Etinho de Laércio, que realiza três festas, nos anos de 2017 a 2019, devolvendo o comando novamente para Ailton de Zé Doutor, agora vice-prefeito.

Em 2020 e 2021, não acontece edição da vaquejada devido à pandemia. Em 2022, a festa volta a ser realizada e, neste ano de 2023, estamos completando 21ª edição da vaquejada do povoado Lagoa da Volta.

A alvorada, que hoje é um dos momentos mais esperados pelo povo, teve início no ano de 2008 e contou com a participação de apenas três cavaleiros (Dió Tibúrcio, Chichico e Dorge). A alvorada cresceu e atualmente reúne toda a comunidade e visitantes para fazerem a abertura da festa e partilharem de um delicioso café da manhã, que tomou proporções enormes, atraindo grupos de cavalgadas das redondezas e cidades vizinhas.

A festa começa na sexta-feira com a alvorada festiva, chegada dos vaqueiros, cavaleiros e amazonas, ocorrendo um grande café da manhã comunitário. Na noite de sexta acontecem festas privadas ou organizadas por terceiros.

No sábado é dia das corridas de gado na caatinga, onde os vaqueiros enfrentam os perigos da mata correndo atrás de um boi.

Domingo é o dia de cavalgada pelas ruas, sendo que no final da tarde acontece um desfile de encerramento com os cavaleiros e amazonas em seus cavalos. À noite, há apresentação de bandas novamente. Hoje, a vaquejada do povoado Lagoa da Volta é a segunda maior do municipio de Porto da Foha, perdendo apenas para a tradicional vaquejada da cidade.

É uma festa que se dá principalmente em função da estação chuvosa do ano, período em que a economia se desenvolve melhor. Todo o mês de julho, o povoado é totalmente organizado para que ela aconteça da melhor forma possível. Comerciantes são atraídos pela grande movimentação do evento, parques de diversões são montados no período para atender a criançada e a juventude. O comércio local também fica muito aquecido, salões de beleza, lojas de roupa, mercearias, bares, distribuidoras de bebidas e outros estabelecimentos atingem o auge dos rendimentos.

No ano de 2015, a vaquejada ganha sua primeira rainha, escolhida através de concurso organizado por Davi Ferreira e Andresa Paiva. A primeira rainha eleita foi Wlly Faustino, seguida por Thaís Marques, ambas permaneceram como rainha por apenas um ano.

Devido a mudança de regra feita pela comissão organizadora, as próximas rainhas assumem por um período de dois anos, como foi o caso de Samilla Lima, Laura Ferreira e Celine Ferreira que reinará nas festas de 2023 e 2024. O concurso tem o objetivo de promover a tradição da vaquejada, criando espaços de participação feminina numa cultura que ainda prevalece muitos traços machistas.

POR VALDEMIR PEREIRA LIMA.

PROFESSOR DE HISTÓRIA,

JORNALISTA – DRT. 0002577/SE

  RADIALISTA – DRT. 0009643/ DF

COLABORAÇÃO:

 PROFESSOR DAVI FERREIRA

 PROFESSORA CÍTIAN FERREIRA

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